Francisco Louça somando lições






Hoje só se podem fazer previsões, amanhã saberemos os resultados das eleições francesas. Hoje, não me ocupo de previsões, mas de lições. As que aprendi com esta campanha.
Lição 1. Sarkozy pode ser derrotado e vai ser derrotado. Isso é bom para a Europa e para a esquerda. É por isso que os eleitores de todas as esquerdas francesas vão votar na segunda volta em Hollande, incluindo também os que sabem que Hollande será um presidente colado ao consenso liberal capitaneado por Merkel. Mas a derrota de Sarkozy acrescenta contradições e abre espaço para a luta social. É uma grande mudança.
Lição 2. O eleitorado de esquerda em França é de esquerda. O eleitorado do PSF está à esquerda do PSF. É por isso que Hollande faz uma campanha prometendo o que Seguro nunca diria em Portugal: retirar tropas do Afeganistão, reforçar o imposto sobre as fortunas, renegociar o Tratado europeu.
Lição 3. Jospin já prometera renegociar o Tratado de Amesterdão e assinou-o três semanas depois de ter ganho as eleições. Hollande procederá da mesma forma, numa situação certamente mais difícil e com uma margem de manobras pior na Europa. É por isso que Melenchon garantiu que não entraria no governo do PSF, que rejeita a austeridade e que continuará o combate pela “revolução cidadã”. A França não vencerá a austeridade e o dogma liberal sem um movimento social que seja decisivo, a partir de baixo.
Lição 4. Jean-Luc Mélenchon mobilizou o essencial da esquerda social e das esperanças socialistas. Foi o candidato da mudança e a sua Frente de Esquerda é um bom exemplo de convergência que constrói. Por opção própria, ficaram de fora o NPA e LO, com candidaturas próprias para afirmarem programas – e com resultados que serão muito inferiores aos que tiveram no passado (tiveram cerca de 5% nos seus melhores momentos) –, e os Verdes, que escolheram colarem-se ao PS e caminham para a catástrofe eleitoral e política (tiveram 16% nos seus melhores momentos). O sectarismo e o carreirismo não são políticas para a esquerda.
Lição 5. O Bloco de Esquerda faz parte do grupo de famílias políticas europeias em que se integra o Partido da Esquerda, de França. Miguel Portas e Marisa Matias, os eurodeputados do Bloco, participam ao lado de Mélenchon, nesse grupo unitário das esquerdas no Parlamento Europeu. Precisamos de mais esquerda na Europa.

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